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abril

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Vale o Escrito é puro suco do Brasil

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Documentário mostra porque esse país tem tudo para não ser levado a sério

CONTRAVENÇÕES

O documentário é do ano passado e faço aqui um mea culpa por não tê-lo colocado na lista de melhores do ano. Mas fiz isso involuntariamente. Somente agora, em 2024, consegui ver o documentário que está no Globoplay. Aliás, mais um que firma o Globoplay como melhor plataforma de docs do momento.

Vale o Escrito, tema da coluna de hoje, acompanha mais de 60 anos de história do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Personagens talhados para a ficção surgem reais falando abertamente de assassinatos, prisões, corrupção e uma guerra sangrenta pelo controle do jogo de bicho na metrópole.

Conhecemos as irmãs Shanna e Tamara, filhas do contraventor Maninho, assassinado, assim como seu filho mais novo, na disputa por pontos de jogo de bicho. Tem ainda personagens folclóricos do carnaval carioca como Peruinha e Rogério Andrade. Além de Bernardo Bello, que a cada palavra que solta (e ele fala muito) provoca um frio na espinha do espectador. Ele parece ter certeza de que vai ser assassinado.

Mas o que mais me chama a atenção na série documental não é exatamente as extraordinárias personalidades dos contraventores, mas a anuência da Polícia com todo o exposto. Parece claro que ela faz parte do jogo, tira sua parte e faz vista grossa pra muita coisa. Isso fica implícito em toda a série, principalmente quando se chega a Adriano Nóbrega, o miliciano morto pela Polícia em um confronto na Bahia, que tinha recebido até homenagem da Assembleia Legislativa do Rio, assinada por Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro. É quando você se dá conta que o fato dessa gente ir para a TV contar sem contenção o mundo – paralelo do cidadão trabalhador – em que vivem, mostra o quanto este País não tem jeito. Pode quem tem dinheiro – e pode tudo, até matar – e que se contente com o que sobra da injustiça quem não tem grana.

Outra coisa que me espanta é quanto a própria Globo, produtora do documentário, fatura com os crimes que expõe. Boa parte dos bicheiros mostrados em Vale o Escrito são presidentes de escolas de samba, que usam para lavar dinheiro. A Globo detém, há décadas, a exclusividade da transmissão do Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio.

Com segunda temporada confirmada para 2025, Vale o Escrito já se firma como um dos retratos muito bem delineados do Brasil paralelo. Ou seria o Brasil oficial?