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Prefeituras contraem dívida recorde em ano de disputa eleitoral

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Esta é uma coluna de opinião. Aqui você vai encontrar notas sobre bastidores da política regional e estadual, além de artigos que expressam a opinião do colunista.

Foram mais de R$ 6 bilhões contratados para próximas gestões pagar

COLUNA DE DOMINGO A menos de um mês das eleições, prefeituras de cidades com até 100 mil habitantes, como Canoinhas, consideradas pequenas ou médias, contraíram um nível recorde de endividamento na comparação com outros anos de disputa municipal. Levantamento do jornal O Globo com base em dados do Tesouro Nacional mostra que, de janeiro a agosto de 2024, os empréstimos bancários assinados por prefeitos já somaram R$ 6,1 bilhões, valor 60% superior ao do mesmo período de 2020 e o segundo maior da série histórica iniciada em 2002. A quantia só não ultrapassa a que foi captada no ano passado, de R$ 6,8 bilhões. O dinheiro extra tem servido como munição para a campanha de políticos no poder, que anunciam obras e outras benfeitorias aos eleitores, deixando a fatura a ser paga aos sucessores.

É o caso de Canoinhas, onde Juliana Maciel Hoppe (PL) contratou R$ 40 milhões em empréstimos do BNDES e do Banco do Brasil. O valor está sendo alardeado em sua campanha como capaz de promover “o maior programa de pavimentações do Município”. São 28 pequenos trechos de ruas não pavimentadas que receberão massa asfáltica. Há, ainda, a praça do Campo d’Água Verde. Na prática, contudo, nenhuma das obras está concluída. O timing com a campanha está perfeito, ou seja, quem quer garantir que as obras serão entregues precisa confiar na palavra da prefeita e, por via das dúvidas, mantê-la na prefeitura.

Se reeleita, Juliana começa a pagar esta conta somente no ano que vem. Caso não vença a eleição de outubro, a conta fica para o eleito.

Além do valor recorde, o número de municípios que recorreram ao crédito bancário, 731, é o maior da série histórica desde 2002. Se considerar todas as prefeituras do país, os empréstimos com instituições financeiras somam R$ 33 bilhões em 2024, atingindo o maior pico nos últimos 22 anos.

Não há dúvidas da necessidade de pavimentações, falando exclusivamente de Canoinhas – esta coluna, inclusive, defendeu os empréstimos diante da situação lastimável que a corrupção nos deixou -, mas é fato que o uso de obras contratadas (para serem 100% executadas depois da eleição) para conseguir votos em uma disputa a reeleição torna a corrida eleitoral desigual. Ressalve-se que esse modus operandi não foi inventado por Juliana. É prática de outras gestões. Via de regra, os últimos quatro prefeitos de Canoinhas herdaram financiamentos dos antecessores, inclusive Juliana de Leoberto Weinert e Beto Passos.

Os prefeitos defendem a necessidades das obras e a falta de recursos próprios que os levam a recorrer a empréstimos. Juliana ainda tem como defesa o fato de ter pouco mais de um ano e meio de gestão. Agora, mais uma vez, torna-se pertinente discutir o quanto essa “vantagem” dos concorrentes a reeleição torna a campanha desigual.