sexta-feira, 18

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abril

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2025

ACESSE NO 

Poemas e sons em noite outonal

Imagem:Freepik

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Belos poemas e afinadíssimos sons musicais encheram o ar naquele começo de noite

Com o intuito de mostrar para a comunidade músicos e escritores que fazem arte entre suas quatro paredes a Academia de Letras do Brasil – Canoinhas colocou entre as suas costumeiras atividades a organização de saraus literomusicais abertos a todos os interessados em levar à lume as suas produções.

O primeiro sarau deste ano foi realizado no sábado passado, 5, nas dependências do Museu Alvanir Vieira.

Belos poemas e afinadíssimos sons musicais encheram o ar naquele começo de noite.

O Acadêmico Dione Grein da Cruz leu o instigante conto Genérica, de sua autoria.

Todos os dias uma pequena ilusão era alimentada por ações conscientes e inconscientes. Todos os dias Genérica acreditava que seus caminhos eram escritos pelas estrelas, que cada acontecimento havia sido planejado por algum ser superior. Todos os dias antes de sair para o trabalho, Genérica consultava o horóscopo e fazia dele o seu Norte. Antes de tomar qualquer decisão mais séria, marcava com a cartomante da Rua Espiritualista uma consulta. “Cinquenta reais bem gastos! ”, repetia para si mesma. Todos os dias Genérica era controlada pelas superstições com as quais cresceu. No auge dos seus vinte e seis anos, Genérica, prima distante de Geni, dava para qualquer um. Era a vida imitando a arte! Mas como poderia negar o que o destino lhe pusera no caminho?! Aceitava todo tipo de homem que até ela chegava. Era uma mensagem do universo! Era um sinal! Um deles seria o ideal! Era o que a previsão astral lhe alertara há oito anos: “Tua alma gêmea está a caminho! Abras tua mente e sejas menos criteriosa, o amor está nas imperfeições! – Peixes.”

Para Genérica a culpa de não ter ainda conseguido encontrar sua cara-metade era dela. “Os astros nunca mentem! ”, repetia para si mesma. Era ela quem deveria estar emitindo energias negativas. “Olho gordo das invejosas do trabalho, com certeza! Preciso de um banho de sal grosso e de um benzimento! ”, repetia para si mesma. Talvez fosse a carência a culpada de tamanho abismo existencial, dessa busca infinita por um ser que a guiasse.

Viveu em um orfanato desde que nascera até ser adotada aos 5 anos. Antes tivesse permanecido no lar para crianças órfãs. Sua família adotiva era omissa, distante e sem amor. Cresceu assistindo ao único canal de TV que pegava em sua casa: “Disque Previsões – O que o Tarot tem a lhe dizer? – Ligue já! ”

Mudou-se assim que conseguiu seu primeiro emprego. Foi para o centro da cidade, onde “novos horizontes precisam ser desbravados! – Peixes”, repetia para si mesma. E entrou com o pé direito em todos os lugares novos que conheceu. Nunca mais ligou para a família adotiva, nunca mais os visitou, e nem ela por eles foi procurada. Mas isso mudou em uma manhã cinzenta de uma temida sexta-feira 13, oito anos depois. O telefone tocou e anunciou a morte de seus pais, ocorrido em um acidente trágico no dia anterior. “Eu sabia que hoje seria um dia de azar! ”, repetiu baixinho para si mesma e seguiu para sua antiga casa, após avisar o pessoal do trabalho.

Despediu-se dos dois estranhos que eram seus pais e não acompanhou o cortejo até o cemitério. Ficou na casa que agora era dela. Não teve irmãos, por isso, não haveria de dividir a herança com ninguém. Fazia oito anos que não punha os pés naquele ambiente onde crescera, então, resolveu entrar no quarto que ela era proibida de frequentar. Revirou todos os armários, a escrivaninha e caixas. Foi quando encontrou algo que a fez cair de costas: sua primeira certidão de nascimento. Jamais tinha tomado conhecimento de que, depois da adoção, mudaram sua data de nascimento… Seu mapa astral estava errado, ela não era pisciana!

***

O acadêmico Pedro Penteado do Prado declamou o poema Estrelas na Lama, letra de uma antiga canção de Herivelton Martins e que ficou consagrada na voz do cantor Nelson Gonçalves.

A acadêmica Daiane Nieser apresentou duas poesias suas. Sem máscaras, uma delas é a que dá o título a seu livro que será lançado no próximo dia 16, às 19 horas, no Centro Empresarial de Canoinhas.

Sem máscaras

Sem máscaras me apresento

Revelo os sentimentos

Há tanto tempo guardados.

Sem máscaras estou desnuda

Leem o lado doce

Conhecem meu lado obscuro.

Sem máscaras sinto medo,

Mas também me liberto

Daquilo que era só meu.

São cem máscaras que crio

E recrio diariamente em mim.

***

O poeta, compositor, cantor e coralista membro do Coral Santa Cecília, de Canoinhas, Walmir Kamisnki, declamou, de sua lavra, este poema:

Saudade não sejas cruel

Saudade não sejas cruel

levanta o véu do tempo

e fale para onde foi a boiada

que desceu a invernada

e atravessou o vale.

Para onde foram os peões

de laço na mão

conduzindo a manada.

Ficou só a cinza do braseiro

rastros dos cargueiros,

profundos, na estrada.

Povo tão forte que um destino deu

rumo por norte

deixando um adeus.

Dá pra se ver lá do alto

removendo o asfalto

algo que rebate

são os dormentes da linha do trem

que vinha e ia levando a nossa erva-mate.

Quanta história contada

de uma era passada

com muito carinho.

Hoje ali é uma avenida

que segue estendida

sobre nosso riozinho.

Povo tão forte que um destino deu

rumo por norte

deixando um adeus.

Onde está o machado

parte do arado

que ficou na sanga

e o cepo do rebolo

de pau de pitanga

e o rio de pedregulho

que fazia barulho

descendo da grota.

E o ancião onde está

que fazia fubá

contando anedota.

Povo tão forte que um destino deu

rumo pro norte

deixando um adeus.

Onde está a jacutinga

voando na restinga

a procura de abrigo

e o meu cão esperto

que no campo aberto

não temia o perigo.

Onde está o Rosilho,

o pampa e o tordilho

bom de montaria.

Povo tão forte que um destino deu

rumo pro norte

deixando um adeus.

Ficou só o resto da barca no chão

ficou marcas de quem já passou

deixando o terreno lavrado

pra outros que chegassem

escreverem uma História bonita

que está escrita nos livros gravados.

Eu que fiz este relato

tirei de um retrato

lá das terras do Contestado

Povo tão forte que um destino deu

rumo pro norte

deixando um adeus.

***

A acadêmica Jéssica Hoppe apresentou dois textos de sua autoria. Eis um deles:

Terra das estrelinhas, entrelinhas

Apagada, a estrelinha começou a pensar:

“Quem mais pudera estar aqui em meu lugar? E se não fosse aqui, onde viria a calhar?”

Visualizava anãs fingindo ser supergigantes apenas para aproveitar daquelas outras tolinhas que viriam inocentes a acreditar…

—Tss… mal sabem elas que isto não passa de sujeira estelar…

Entre as boas “Ó’s e as frias “M’s”, as Cefeidas são mesmo as mais difíceis de se lidar…

Contaram à estrelinha o que fazer para brilhar.

Eles guardavam a receita, mas não sabiam cozinhar!

Foi quando ela percebeu que a muito tempo vinha a se preparar…

Inconscientemente pôs-se a chorar.

Instabilidade.

Colisão.

Ondas de choque.

Não foram para machucar… Era preciso ainda o hidrogênio para em seu núcleo luz criar!

A estrelinha não sabe, ou não quer acreditar:

Ainda fará outras estrelinhas desejarem seu lugar!

***

E para animar a noite, entre cada apresentação literária o deslumbramento de ouvir Stefani e Vitória a cantar e a solar seus violões.

Exímias violonistas a dedilharem com perfeição, ritmo e afinação as cordas de seus instrumentos musicais. Viajamos com elas através das mais legítimas melodias da nossa maravilhosa música popular brasileira.

Com um toque especial, para homenagear o distinto e peludo personagem de orelhas em pé que virá nos visitar no Domingo de Páscoa alegremente cantaram a tradicional Coelho da Páscoa. E ficamos ali a pensar: “Que trazes para mim?”

Também para comemorar a Páscoa que chega carregada de recordações eu li minha crônica Lembranças que o tempo pascoal nos traz.

Ao finalizar as apresentações o acadêmico Mário Renato Erzinger, cerimonialista, leu uma bela e sensível elegia e os presentes fizeram um sagrado minuto de silencia a fim de homenagear-se o Imortal Acadêmico Fernando Tokarski que nos deixou há algumas semanas.

“Morrer é voltar para casa

 Autor desconhecido

Quando a morte chega, com sua bagagem de mistérios, traz junto divergências e indagações.

Afinal, quando os olhos se fecham para a luz, o coração silencia e a respiração cessa. Terá morrido junto a essência humana?

Materialistas negam a continuação da vida. Mas os que creem dizem que sim, a vida prossegue além da sepultura.

E eles têm razão. Há vida depois da morte. Vida plena, pujante, encantadora.

Prova disso? As evidências estão ao alcance de todos os que querem vê-las.

Basta olhar o rosto de um ser querido que faleceu e veremos claramente que falta algo: a alma já não mais está ali.

O Espírito deixou o corpo feito de nervos, sangue, ossos e músculos. Elevou-se para regiões diferentes, misteriosas, onde as leis que prevalecem são as criadas por Deus.

Como acreditar que somos um amontoado de células, se dentro de nós agita-se um universo de pensamentos e sensações?

Não. Nós não morreremos junto com o corpo. O organismo voltará à Natureza. Restituiremos à Terra os elementos que recebemos, mas o Espírito jamais terá fim.

Viveremos para sempre, em dimensões diferentes desta. Somos imortais. O sopro que nos anima não se apaga ao toque da morte.

Prova disso está nas mensagens de renovação que vemos em toda parte.

Ou você nunca notou as flores delicadas que nascem sobre os túmulos? É a mensagem silenciosa da Natureza, anunciando a continuidade da vida.

Para aquele que buscou viver com ética e amor, a morte é apenas o fim de um ciclo. A volta para casa.

Com a consciência pacificada, o coração em festa, o homem de bem fecha os olhos do corpo físico e abre as janelas da alma.

Do outro lado da vida, a multidão de seres amados o aguarda. Pais, irmãos, filhos ou avós – não importa.

Os parentes e amigos que morreram antes estarão lá, para abraços calorosos, beijos de saudade, sorrisos de reencontro.

Nesse dia, as lágrimas podem regar o solo dos túmulos e até respingar nas flores, mas haverá felicidade para o que se foi em paz.

Ele vai descobrir um mundo novo, há muito esquecido. Descobrirá que é amado e experimentará um amor poderoso e contagiante: o amor de Deus.

Depois daquele momento em que os olhos se fecharam no corpo material, uma voz ecoará na alma que acaba de deixar a Terra.

E dirá, suave: Vem, sê bem-vindo de volta à tua casa Fernando…”