Saulo Sabatini falou em “serviço de branco” em entrevista à 98FM e ao JMais
Várias manifestações condenaram a fala racista do candidato a deputado federal Saulo Sabatini em entrevista concedida na quinta-feira, 22, ao programa Fala Cidade da rádio 98 FM. A entrevista foi gravada em vídeo e publicada no sábado, 24, na coluna de Edinei Wassoaski no JMais.
Durante a entrevista, ao citar a necessidade de melhorias na rodovia SC-303, Sabatini falou que é necessário fazer um bom trabalho de recuperação da rodovia, usando o termo “serviço de gente branca” como sinônimo de qualidade. Advertido pelo jornalista que a fala era racista, Sabatini se retratou, afirmando que usou uma ” força de expressão” e que não é racista. “Respeito o branco, o afrodescendente, o negro, e todas as outras nacionalidades”, afirmou.
O presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Canoinhas, Fernando Camargo, enviou nota ao JMais afirmando “total repúdio contra o ato de racismo externado na fala do candidato. (…) Tão triste quanto a manifestação de pensamento do candidato, é a omissão de alguns meios de comunicação de nossa cidade e, ainda, das entidades do Município e partidos políticos diante de tão infeliz pronunciamento emitido por pessoa que diz ser defensor dos valores cristãos e da família. Quem cala, consente”.
O MDB Afro municipal de Canoinhas também mandou nota de repúdio. “A lei 7.716, de 1989, prevê como racismo ações resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
O candidato Sabatini, através de uma colocação que inferioriza o trabalho da população negra em relação aos brancos, denuncia o quanto a sociedade brasileira ainda precisa evoluir e compreender sua própria história, pois da mão de obra à intelectualidade negra e indígena, formamos alicerces fundamentais na construção desse país. Os diálogos contemporâneos disseminados pelo uso da tecnologia, contribuem para que os indivíduos se informem e não reproduzam comportamentos preconceituosos que foram historicamente reproduzidos desde o período colonial. Portanto, torna-se urgente discussões e posicionamentos antirracistas de todas as pessoas e movimentos que almejam uma sociedade que respeita a diversidade e, faz dela combustível para o avanço de uma nação mais justa e democrática!”.
CULTURAL
Por outro lado, houve quem compreendesse Sabatini. Negro, o professor Adão Lourenço disse que sempre ouviu piadas racistas, “muitas vezes sem maldade e por força do hábito. Tive de me esforçar muito pra ganhar credibilidade e respeito. Sempre fui apaixonado pelos livros e estudo. Graças a isso compreendi bem cedo que nós brasileiros somos extremamente racistas e preconceituosos, muitas vezes não por maldade, mas pela tal força do hábito. Nossa região contestada, assim como grande parte do Brasil, formada por grande parte de descendentes de alemães, poloneses, italianos, ucranianos, libaneses e tantas outras raças, acabou em sua maioria se misturando com os afros e índios. O branco, o negro e o índio são a essência do povo brasileiro. Somos grande parte, oriundos dessa mistura. Amo minha cor, morena, negra, parda e nunca levei a sério esses dizeres: ‘serviço de branco, página negra, serviço de preto etc’. Acho q Dr. Saulo Sabatini, assim como tantos de nós, é uma vítima do vício de linguagem e de um processo cultural em formação. Temos de rir e repudiar, mas não levar a sério e se zangar. Sabemos dos valores de todos os povos e raças. Somos extremamente racistas e preconceituosos não tanto por maldade, mas pela tal força do hábito, vícios de linguagem e processo cultural e formação. Mas já melhoramos muito e vamos melhorar ainda mais.”