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O que são altas habilidades e superdotação?

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Sinais nem sempre são claros e pais precisam ficar atentos

Francine Beluk*

Essas duas palavras podem ser consideradas sinônimos e nomeiam um grupo de crianças e adolescentes com elevado potencial e envolvimento com as áreas do conhecimento humano.

Joseph Renzulli, um pesquisador e psicólogo americano, desenvolveu a teoria dos 3 anéis: habilidade acima da média – comprometimento com a tarefa e criatividade. Hoje já se sabe que nem toda criança/adolescente estará inclusa nestes 3 anéis e se desenvolveram outras teorias como a de múltiplas inteligências que surgiu no final do século XX, com base no  interesse de Gardner pela inteligência.

Existem alguns sinais clássicos de Altas Habilidades/Superdotação (AHSD), são eles:

– vocabulário extenso e rebuscado para idade

– boa memorização

– facilidade para aprender coisas novas

– apresentam iniciativa e liderança

– criatividade para solucionar problemas

– alto grau de curiosidade

– preferência por interagir com crianças mais velhas e adultos

– apresenta grande sensibilidade/empatia.

Crianças/adolescentes com AHSD não são gênios e nem sempre vão ter desempenho perfeito, pois junto com o alto grau de quociente de inteligência (QI) ocorre o desenvolvimento assíncrono que significa literalmente estar fora de sincronia interna e externamente, e esta ausência de sincronicidade nas taxas de desenvolvimento cognitivo, emocional e físico pode criar uma tensão interna tão perceptível que se manifesta diretamente em seu comportamento. Há também as sobre-excitabilidades que indicam aumento da frequência, intensidade e a duração da resposta em uma ou mais das seguintes áreas: emocional, intelectual, imaginativa, sensorial e psicomotora.

Para se chegar a identificação o aconselhável é procurar um neuropsicólogo, que fará uma avaliação psicológica e aplicação de testes, um deles e o mais conhecido é o Wisc IV, teste considerado padrão ouro que é possível ser realizado a partir de 6 anos. Existe também o SonR que pode ser aplicado a partir dos 2 anos e meio.

Existem muitas características semelhantes com alguns transtornos como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) entre outros, por isso da imprescindível avaliação com um profissional capacitado e conhecedor desta condição.

Nós temos em nossa casa uma criança com AHSD e sabemos bem o que é passar por diagnósticos errados e equivocados. Nosso filho desde muito pequeno se mostrou diferente das demais crianças, aprendeu a dizer seu nome com 1 ano e meio, sabia as letras do alfabeto em português e inglês aos 2 anos, leu aos 3, respeitando inclusive pontuação. Eu, como uma mãe sempre atenta iniciei minha busca pelo Google sobre estas características e foi quando conheci as altas habilidades e junto com isso li que o teste Wisc IV só poderia ser aplicado nele com 6 anos completos, então eu deveria esperar. Foi quando a escola que ele estava desconfiou de TEA. Aí se iniciou a nossa “saga” por avaliações. Primeiro fomos a uma neuropsicóloga que fez várias sessões e no fim do seu relatório nos encaminhou a um neuropediatra. Na consulta com o neuro ele descartou o TEA, mas disse que se a escola insistisse neste assunto era para procurar uma clínica conceituada em Curitiba para submeter o nosso filho a um outro teste. Nisso veio a pandemia e resolvemos não arriscar. Enfim ele completou 6 anos e realizamos o Wisc IV com uma outra neuropsicóloga e o valor do QI foi muito alto. Decidimos então trocar o nosso filho de escola, por uma da cidade que tem o Polo de Altas Habilidades e poderia atendê-lo da forma como consta na legislação.

Sim, crianças com AHSD são público alvo da educação especial (mesmo isso não acontecendo na prática) e para nossa surpresa esta também veio com a desconfiança de TEA e nosso filho só seria atendido neste Polo se tivesse o laudo atestando a não existência do transtorno. Então fomos a Curitiba e o resultado do teste foi uma pontuação baixa para ser diagnosticado TEA. A partir desta data a escola deu início a inclusão do nosso filho no Polo onde ele segue sendo atendido.

Recentemente, devido ao elevado QI do nosso filho, ele foi aceito na Mensa Brasil, que é a maior, mais antiga e mais famosa organização de alto QI do mundo.  Esta foi a frase recebida por nós anunciando a aprovação dele: “É uma honra recebê-lo como novo membro da Mensa. Pessoas com um QI top 2% são raras. Nós ficamos muito orgulhosos por isso”.

Em conversa com o editor do JMais, pedi que fosse feita uma matéria para trazer ao conhecimento de todos o que é AHSD, algumas características e os desafios que nós pais passamos e aí nem entro no mérito do que o nosso filho passou e o que vamos passar, porque ter um filho assim com esse desenvolvimento atípico é maravilhoso, desafiador e intenso.

O enfoque deste meu relato é chamar a atenção dos nossos governantes para a ampliação das políticas públicas, dos profissionais da educação, desde o nível acadêmico, pois não há disciplina na formação e o investimento em cursos de pós-graduação também é praticamente nulo.

 As escolas e os profissionais que nela atuam precisam aprender sobre AHSD, pois ao se deparar com uma criança “diferente” do padrão devem iniciar um atendimento diferenciado até porque na lei não há a exigência de laudo médico ou psicológico para o atendimento pedagógico (Nota Técnica nº4 de 23 de janeiro de 2014 do MEC).

E, pais, observem seus filhos e ao menor sinal de elevada capacidade procurem profissionais especializados e façam valer seus direitos. Nem toda criança/adolescente com AHSD vai ler aos 3 anos de idade ou fará cálculos matemáticos aos 5, às vezes os sinais são muito sutis.

Precisamos juntos elevar o número de crianças /adolescentes identificados pois no Brasil acredita-se que cerca de 10 a 20% da população têm AHSD, mas identificados não passam de 5%.

Terminarei este texto citando uma frase do psicólogo e neuropsicólogo Damião Silva: “As Altas Habilidades e a Superdotação precisam deixar de ser uma nota de rodapé”.

*Francine Beluk é fisioterapeuta e mãe de um menino com altas habilidades