Os próximos quatro anos serão de muito trabalho, para aqueles que não se sentem representados por Lula
Depois de inúmeros dias, enfim o pleito eleitoral de 2022 está devidamente encerrado perante a justiça eleitoral. Já sabemos que a partir de 2023 teremos Luís Inácio Lula da Silva (PT) no comando do País e Jorginho Mello (PL) na chefia da Casa D’Agronômica. Gostaria de poder estar escrevendo sobre os novos governos neste momento.
Porém, o que ocorreu em todo o País a partir do momento em que Lula foi oficializado pelo resultado das urnas democraticamente como o presidente da República, nos faz pensar em inúmeras situações.
Já na noite de domingo várias rodovias brasileiras começaram a ser tomadas por manifestantes que não aceitavam o resultado do jogo democrático. Agiam tal qual aquele filho rebelde que quando a mãe fala que não pode, ameaça ir embora de casa e começa a fazer birra.
Muitos de nós já sabíamos que ao perderem as eleições, os bolsonaristas iriam tentar algum tipo de manifestação antidemocrática, tal qual ocorreu na invasão do Capitólio nos Estados Unidos. Aqui o Congresso não foi invadido. Nas terras tupiniquins a tentativa de golpe foi abrasileirada para um movimento que nos últimos anos todos nós começamos a conviver: o fechamento de estradas.
Na liderança, os caminhoneiros, classe cujas greves por essa parcela sempre foram um tanto quanto questionáveis, afinal quando a gasolina chegou a quase 9 reais, ninguém parou.
Mas, vamos deixar as manifestações anteriores de lado e focar no que aconteceu nesse segundo turno. E aqui precisamos trazer para a conversa a Polícia Rodoviária Federal, que na manhã de domingo resolveu ignorar a lei e fazer blitze em rodovias na região do nordeste, uma das mais humildes do País e onde Lula teve a maior porcentagem de votos no primeiro turno. A tentativa de cercear o direito ao voto de uma parcela chocou a todos.
Porém, o que viria a acontecer posteriormente era ainda mais incrédulo de se observar. A partir do momento em que os manifestantes e suas pautas antidemocráticas tomaram as rodovias e começaram a cercear o direito da população de ir e vir, os agentes da PRF, simplesmente começaram a fazer corpo mole para efetivamente colocar ordem na casa, isso é comprovado pela demora em começar a agir e também pelos inúmeros vídeos onde agentes declaravam estar ao lado dos manifestantes.
Ao observar tal situação fica comprovado algo que muitos analistas políticos já afirmavam há algum tempo. A PRF foi de todas as forças a única que cedeu ao aparelhamento realizado por Bolsonaro.
Agora, dentro das manifestações pudemos observar as mais variadas situações, as quais beiram em muitas vezes o surreal. Houve os casos de pessoas pedindo uma “intervenção federal”, embasada em cima de um artigo da Constituição Federal de 1988, o que passa longe de existir. Ocorreu também uma gigantesca difusão de fake news, dos mais variados gostos e modelos. Tivemos desde a suposta prisão do ministro Alexandre de Moraes até de que Bolsonaro queria que os manifestantes aguentassem ao menos 72 horas de protestos.
Tudo o que foi observado nos momentos que se sucederam os resultados das urnas no domingo, em sua maioria, é antidemocrático e contra a Constituição que, sim, defende a livre manifestação, porém, proíbe que se cerceie o direito dos outros e, principalmente, tente interferir no regime democrático.
Ao final dessas manifestações, onde a ordem foi restabelecida, ficam algumas considerações necessárias. A primeira é que a demora para Bolsonaro se pronunciar já era de se esperar, afinal um político que sempre tentou construir as suas próprias narrativas ver o seu mundo ser desconstruído é completamente difícil. Porém, essa mesma demora fez com que o Brasil se tornasse durante alguns dias um caldeirão transbordando antidemocracia.
Já em relação às manifestações, é preciso observar que entre os que ali estavam não havia um trabalho em conjunto, é claro, tirando as ideias antidemocráticas. Ao observar as imagens dos eventos tudo mais parecia um desencontro de ideias, que não estavam levando a lugar nenhum, apenas criando ainda mais situações que prejudicavam o ir e vir de todos.
Como resultado do que ocorreu no decorrer desta semana ficam alguns aspectos. Para os inconformados com a eleição de Lula, daqui a quatro anos o Brasil passará por uma nova eleição quando existirá a chance do seu candidato ser eleito.
Aqueles que incitaram as manifestações antidemocráticas ou foram complacentes com elas devem ser investigados, julgados e sofrer as sanções previstas em lei. Afinal, os crimes que aconteceram no meio de todas essas situações não podem passar impunes, pois se não servirão de exemplo e concordância para manifestações próximas.
Já Jair Bolsonaro com o seu discurso pífio de poucos minutos, no qual não reconheceu efetivamente a sua derrota e a eleição de Lula, sai de cena assim como entrou, um político pequeno, tal qual sempre foi nos corredores do Congresso.
O alento no meio de todas as situações observadas é de que mesmo mais uma vez tendo as suas bases atingidas a Democracia brasileira conseguiu resistir bravamente as inúmeras tentativas de “intervenção federal” que foram pedidas.
Os próximos quatro anos serão de muito trabalho, para aqueles que não se sentem representados por Lula, o de construir um contrapeso forte para disputar as eleições de 2026. Para Lula o de tentar reunificar um País que nos últimos tempos sofreu duros baques.
