Poetas andam ao nosso lado e não os reconhecemos
Poesias sempre encantam inquietos espíritos que pelo orbe perambulam em busca de um místico superior para embalar suas turbulentas noites.
Poetas andam ao nosso lado e não os reconhecemos. Embora diáfanos vestem as mesmas roupas carnais que vestem todos os viventes.
E foi em uma noite muito especial promovida pela Academia de Letras do Brasil – Canoinhas que se sentaram ao nosso lado alguns poetas da cidade atingindo-nos no mais fundo de nosso âmago.
E foi em um Sarau que a Academia de Letras do Brasil – Canoinhas realizou sua última atividade voltada ao público neste feliz ano de 2024.
Como da vez primeira o evento foi realizado no Museu Alvanir Vieira, mantido pela Fundação Cultural “Helmy Wendt Mayer”, acolhendo integrantes e amigos da ALB – Canoinhas em um esplêndido Sarau Literomusical.
O deslumbramento veio em doses crescentes de euforia e encantamento.
Ouvimos e vimos a emoção na voz e nos gestos da senhora Irene Bedretchuk que declamou, de sua lavra, a poesia Ecologia. Ei-la:
Que bom seria
se toda a humanidade atual vivente
soubesse respeitar
o meio ambiente,
a fauna, a flora, beleza sem par.
Que belo mundo Deus fez
o nosso dever é preservar.
Os mares, os rios, as cachoeiras,
as árvores grandes e as pequenas touceiras
as ervas que servem de remédio
e aliviam o tédio.
Os pássaros também
voando no além.
As flores multicores e o perfume do branco jasmim
que se transformam em poema e caem sobre mim.
A natureza protesta
quando o homem destrói a floresta
Que belo mundo Deus fez
e para a humanidade, com muito carinho
de graça tudo entregou.
Porém um dia uma árvore foi derrubada.
Foi beneficiada e transformada em cruz
E foi entregue aos braços de Jesus.
A professora de arte Márcia Strapazzon Bastos foi mais uma das surpresas da noite. Amante da literatura, e em especial da poesia, vem escrevendo as suas há muito tempo já.
Brindou-nos com o soneto Em ti!, de sua autoria:
Minha alma, de sonhar-te anda perdida,
meus olhos, andam cegos de te ver;
não és sequer razão do meu viver,
pois que tu és, já toda minha vida!
Não vejo nada, assim enlouquecida,
passo no mundo, meu amor, a ler
no misterioso livro do teu ser,
a mesma história tantas vezes lida!
Tudo no mundo é frágil, tudo passa…
quando me dizem isso, toda a graça,
de uma boca divina, que fala em mim!
E olhos postos em ti, digo de rastros:
— Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
que tu és como um deus: princípio e fim.
O versátil Reinaldo Bockor, outra surpresa poética da cidade, brindou-nos com o filosófico poema Vértebra de Luz.
Num tempo sem nome, sem cor, sem medida,
onde o tudo é promessa e a chama é contida,
nasce uma luz oculta e exata,
uma nota nas veias que o infinito retrata.
É o alento de quem, na espera, renasce,
no silêncio que vibra e jamais desfalece,
como estrela que, em segredo, anuncia
seu brilho guardado na noite sombria.
Caminhamos no fio da brisa e do sonho,
em passos que tecem um mundo risonho,
cada queda uma prece, sutil ascensão,
na dança de sombras e de criação.
Há em nós uma eternidade escondida,
um eco que pulsa, uma chama contida,
que arde nas marés, paciente e serena,
sabendo que o fim é um começo, uma cena.
Então, ergue o coração ao mistério e à paz,
à força invisível que tudo refaz,
pois somos sopros em luz e magia,
esperança e sol, eternidade e poesia.
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Ao findá-la pede licença ao público para falar de sua avó que fora uma grande trovadora –repentista. E dela apresentou-nos uma trova antiga que guarda em sua memória.
Maria Clara Barbosa Arendarchuk soltou sua voz e nos encantou interpretando várias músicas do cancioneiro popular brasileiro.
Os membros da ALB– Canoinhas também apresentaram suas obras literárias.
O poeta, teatrólogo e escritor Acadêmico Andreas Costenaro apresentou as poesias Desejo e Uma Observação, que fazem parte de seus livros. E ainda nos brindou com uma humorística história real levando os presentes à gargalhadas intermináveis.
O poeta Acadêmico Dione Grein da Cruz leu seu impressionante poema Inigualável.
O acadêmico escritor Pedro Penteado do Prado prestou uma homenagem ao nosso Confrade Fernando Tokarski ao apresentar a ode Não há ninguém mais, por ele escrita em19 de novembro de 1979.
A Acadêmica Jéssica Hoppe, com impressionante verve, foi a apresentadora e animadora da noite e ainda nos presenteou com a leitura de um instigante trecho de seu livro Farazzi – entre a luz e a escuridão.
Um Inesquecível Natal, foi um texto meu que li.
Que outras noites como esta possam lotar as dependências do Museu Alvanir Vieira, a nossa casa de cultura e luz.
Já está programado para antes que finde o verão do próximo ano o primeiro Sarau Literomusical. Venham cantar, tocar, ler seus textos ou declamar seus poemas no dia 9 de março de 2025. Até lá!
