Como vai o coro? Sempre Azul? é raro retrato da sociedade canoinhense
LITERATURA
Raros são os momentos em que podemos celebrar a literatura local. Adair Dittrich, Pedro Penteado do Prado, Jéssica Hoppe, Reinaldo Knorek, Andreas Costenaro e alguns outros nomes que publicam regularmente formam uma minoria. São pessoas preciosas que precisam ser incentivadas. Escrevem romances, contos, poesias fruto de suas ilimitadas imaginações.
Dentro da academia, contudo, há um canoinhense que consegue furar a bolha do pedagógico e nos surpreende com obras como este Como vai o coro? Sempre Azul?, título que parafraseia a inigualável irmã Carolina Gross, que por aqui aportou no início do século passado para revolucionar. Outra grande escritora que passou seus últimos dias na Europa, em sua natal Suíça, de onde, em seu último recanto fez a simbólica pergunta.
Irmã Carolina se referia ao Coral Santa Cecília, que entre tantos feitos, também teve suas digitais, quando surgiu no mesmo berço de Canoinhas. A irmã foi regente e organista do Coro Santa Cecília de 1921 a 1965.
Ao se propor a contar esta centenária história, o musicólogo, professor e escritor Matheus Prust vai muito além em Como vai o coro? Sempre Azul? Com rigor acadêmico, mas texto de fácil acesso, o escritor mergulha na história de Canoinhas, mas não se limita aos fatos evidenciados de nossa formação enquanto cidade. Por meio dos personagens selecionados a partir da sua relação com o coral, Matheus desvenda peculiaridades da história de Canoinhas, delineia a importância da formação católica que, não à-toa, preserva documentos preciosíssimos da formação cultural e política da cidade.
O que interessa a Prust são esses detalhes, para deleite do leitor. O acadêmico escarafuncha documentos e depoimentos, jornais e fotografias para, de certa forma, nos colocar dentro dos lares canoinhenses para que possamos entender como viviam nossos antepassados, como se relacionavam com os vizinhos, como Canoinhas se via como sociedade e como isso era exposto por meio de organizações, sociedades e corais como é o caso do Santa Cecília.
Sem esquecer o objeto de seu estudo em nenhum momento, o autor costura as particularidades do coral à história local, demonstrando como fatos históricos como a fatídica Guerra do Contestado influenciou na religião e na sociedade como um todo, não deixando, claro, o coral impassível.
É preciso valorizar e louvar pessoas como Matheus. São tão poucos os guardiões da cultura canoinhense que quando um jovem surge com essa vocação é um verdadeiro milagre diante de tantas ações para sufocar o que nos resta de patrimônio cultural.