Pesquisador aborda dados históricos e culturais acerca do Coral
Um livro lançado nesta quarta-feira, 3, conta a história do centenário Coral Santa Cecília. O pesquisador Matheus Prust aborda dados históricos e culturais acerca do coral.
Graduado em Música pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar), mestre pela mesma instituição e agora no doutorado, Prust entende de música e sua relação com a sociedade e com a história.
“Precisamos conhecer e divulgar a nossa história”, afirma o pesquisador sobre a motivação para escrever o livro. Enquanto pesquisador, nascido em Canoinhas e residente no Curitiba (PR), Matheus dedica seus estudos à investigação sobre a música no Sul do Brasil, abordando acervos, biografias e as relações sociais envolvidas no fazer artístico.

Prust conta que o trabalho de pesquisa em Canoinhas teve início em 2010, quando passou a mapear diferentes maneiras de prática musical, como a institucional, religiosa, de ensino, popular e de difusão cultural. “Essa pesquisa tem revelado um rico cenário musical na região do Planalto Norte Catarinense, em consonância com maiores centros”, observa.
A motivação para estudar a história do Coral Santa Cecília veio da importância que a tradição coral tem em Canoinhas. O pesquisador conta que iniciou a pesquisa por estímulo “do saudoso maestro Aloysio Soares de Carvalho, que foi o primeiro a sistematizar uma história do coral, um em artigo jornalístico nos anos 1970”.
DOCUMENTOS HISTÓRICOS
Os documentos são uma das mais conhecidas fontes para pesquisas que envolvem dados históricos, embora não sejam as únicas. E foi com base em uma grande quantidade de documentos que o pesquisador conseguiu comprovar que o coral existe desde 1913 e atua de forma ininterrupta desde então.
Os 110 anos que o coro completa nesta quarta-feira, 3, fazem dele um dos mais antigos em funcionamento contínuo do Brasil. “Certamente esse é um fato que devemos aos próprios canoinhenses, e não a instituições ou ao poder público”, destaca Prust, que acredita que essa informação pode servir de estímulo “para preservarmos e divulgarmos a tradição cultural local”.
Embora possa causar confusão, o texto de Prust não é historiográfico, mas sim musicológico. Mas isso não é entrave para o leitor, que passa a conhecer mais a fundo sobre o coral que faz parte da identidade da cidade.

A pesquisa para escrever o livro utilizou documentos cartoriais e paroquiais, acervos musicográficos, jornais, fotografias, cartas e entrevistas. “O processo pode ser demorado, e por vezes eu me encontrei em situações aparentemente sem saída – a solução era aguardar (às vezes dias, outras anos) a identificação de novas fontes, que, eventualmente, permitiriam dar continuar às reflexões”, relata Prust. Ele complementa que precisa “destacar que a participação da comunidade foi essencial para completar essa desafiadora tarefa”.
IMPORTÂNCIA PARA CANOINHAS
O coral nunca esteve apagado no cenário musical, embora tenham havido períodos de maior e de menor atividade. De 1950 a 1980 houve o que o pesquisador classifica como forte participação do coral no meio musical catarinense.
Prust explica que nessa época, a associação Schola Cantorum Santa Cecília era uma grande instituição divida em departamentos: Departamento Coral (dirigido por Aloysio Soares de Carvalho, com o Coral Santa Cecília, o Coral Luterano Martinus, Coral da Assembleia de Deus, Coral Canoinhense, Coral Masculino Pedro Reitz e Coral Feminino da Amizade), Departamento de Ensino (dirigido pelo prof. Pedro Reitz), Departamento Instrumental (congregando músicos da cidade, a Banda do BPM e o Banda Wiegando Olsen) e o Departamento Teatral (dirigido por Ingo Bollmann). Todos os departamentos trabalhavam em conjunto, formando um grande coletivo cultural.
O Bispo Diocesano daquela época, dom Daniel Hostin, escreveu “que diremos mais do Côro Santa Cecília – orgulho de Canoinhas e, sem favor, o melhor coro de todo o Bispado?”

FUNDADO POR UMA MULHER
Um dos achados de Prust na pesquisa para compor o livro é de que uma mulher foi a responsável por fundar e dirigir o coral em seus primeiros anos, indo contra as restrições que a Igreja Católica impunha na época.
Rosalina Steffen Werner foi, portanto, a responsável por dar início à história que agora chega aos 110 anos. As razões que a levaram a fundar o coral estariam ligadas a uma necessidade comunitária, pois era uma maneira dos povoadores relembrarem suas tradições sociais e religiosas trazidas dos países germânicos.
Depois de Rosalina, o coral foi dirigido pela idealista Irmã Maria Carolina Gross, religiosa e professora austríaca que viveu por 40 anos em Canoinhas, e foi líder cultural local. “À época da Schola Cantorum, buscou a profissionalização, integrando os canoinhenses ao cenário musical estadual”, comenta Prust.

Desde os anos 1980, o coral está sob direção dos professores Maria de Lourdes Brehmer e Walter Bern Grafe, e mais recentemente com Vitor Abuda Wendt. Maria inclusive, falou sobre a história e importância do coral em entrevista ao programa Cidade Ao Vivo.
O QUE O LEITOR ENCONTRARÁ
De acordo com o autor, os leitores de Como vai coro? Tudo azul? encontrarão no livro uma história do coral de acordo com o contexto em que se inseria, mas sem a pretensão de escrever uma história completa e acabada do grupo musical, que diz não ser possível nem desejável.
“O que busquei foi registrar um olhar sobre os fatos e acontecimentos, compartilhando reflexões com o leitor, convidando-o a visitar e participar da construção da difusão da cultura musical brasileira, na expectativa de contribuirmos, conjuntamente, para a inclusão das cidades interioranas em seu roteiro”, explica Prust.
Dessa maneira, o leitor poderá encontrar informações sobre o desenvolvimento de Canoinhas desde a sua povoação, ainda no século XIX, associada às atividades do coral.

