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Fernando Tokarski foi gigante e a falta que fará é incalculável

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Esta é uma coluna de opinião. Aqui você vai encontrar notas sobre bastidores da política regional e estadual, além de artigos que expressam a opinião do colunista.

Canoinhas deve muito ao seu maior historiador

LUTO

Canoinhas está em luto. Longe de comparações e perto da emoção, ainda no calor de momento de saber que Fernando Tokarski se foi com apenas 67 anos nesta triste segunda-feira, é que escrevo essa coluna especial, dedicada inteiramente a ele, nosso maior historiador.

Não comparo sua morte a nenhuma outra perda que Canoinhas teve em seus 113 anos, até porque cada pessoa é única e todas têm seu valor. Sempre será a pessoa mais importante do mundo para alguém. Fernando, contudo, entra para o rol dos canoinhenses (embora nascido em Irineópolis veio ainda criança para Canoinhas e se tornou cidadão honorário em 2017) que fizeram, e muito, para a coletividade. Ao dedicar a vida a documentar a história de Canoinhas prestou um serviço imensurável à memória local. Obcecado pela Guerra do Contestado, revirou jornais, tirou poeira de documentos antigos e entrevistou centenas de pessoas, criando um mosaico único do que foi a Grande Guerra de Santa Catarina, jamais comparável. Ao ouvir muitas fontes primárias fez o que hoje seria impossível dado ao fato de que a vasta maioria morreu: preservar a memória de quem viveu aquele horror.

Certa vez viajamos de Mafra a Caçador – eu, Fernando e a jornalista Priscila Noernberg – para registrar em que se transformaram as estações ferroviárias 100 anos depois da Guerra do Contestado. Foi uma grande oportunidade contar com a consultoria de Fernando. O mais legal foi ver o prazer dele de fazer parte de algo que gostava muito. Em uma de nossas viagens perguntei em que época ele gostaria de voltar se possível fosse viajar no tempo. Não titubeou: no período do Contestado. Era o menino de 10 anos, que se impressionou com o especial dos 50 anos da Guerra publicado em 1967 pelo O Estado de S.Paulo, falando. Foi a partir desse jornal que Fernando ficou fascinado pelo tema.

Fernando amava sobretudo as artes e tinha um apreço muito grande pela comunicação, de preferência, a feita a moda antiga. Ouvia diariamente a Rádio Gaúcha, adorava ler jornais e quando o JMais criou uma lista de transmissão no WhatsApp me chamava pra reclamar que “o piá não tinha entregado o jornal ainda” quando demorávamos a enviar as principais manchetes do dia. Ambos ríamos.

Pai amoroso do filho único, João, marido exemplar de Zeca, que o acompanhou até o último minuto, era um intelectual completo. Curioso, fez de tudo um pouco. Atuou como jornalista, fotógrafo, no poder público atuando sobretudo no extinto Museu Municipal e na Fundação Cultural. Sua credibilidade o transformava em uma eminência parda capaz de integrar diferentes governos dada a sua competência e não preferência política.

Entre as diferentes funções nunca deixou de escrever. Além dos tantos livros sobre o contestado, escreveu contos regionalistas e poemas. Tinha na fina ironia, para além do sorriso fácil, mesmo em tempos difíceis como quando descobriu o câncer, como uma de suas maiores qualidades.

Fernando parte cedo demais e parte sem repassar seu imenso legado a um herdeiro intelectual, simplesmente porque, tristemente, não houve alguém que se interessasse com tamanha dedicação às suas pesquisas. Isso abre um imenso vácuo na trajetória de Canoinhas, que perdeu seu maior historiador.