Apenas 8% dos eleitos para o Congresso não têm experiência política
PERPETUAÇÃO
Se a eleição de 2018 foi a da renovação com vários outsiders sendo eleitos, principalmente na esteira do presidente Jair Bolsonaro (PL), neste ano a situação foi bem outra. Levantamento feito pelo Instituto Millenium aponta que somente 8% dos congressistas eleitos neste ano não têm vínculo anterior com a política.
O resultado das urnas mostrou que a maioria dos deputados e senadores eleitos já ocupou mandatos, cargos de alto escalão do governo ou é herdeira de tradicionais famílias da política. Sem contar essas situações, sobram apenas 39 deputados sem vínculo político que tomarão posse em 2023. No Senado, só um senador eleito nunca ocupou antes um cargo público.
A posse dos deputados, em fevereiro, provocará a troca de 45% dos assentos na Câmara. Mas essa substituição esconde vínculos que representam a continuidade dos grupos dominantes da política brasileira.
O estudo só considera como renovação quem nunca teve mandato. Para os autores, o resultado das urnas não apenas mantém a atual configuração do jogo político em Brasília como dificulta a entrada de novos nomes no Legislativo.
De fato, porém, interessante é perceber o comportamento do eleitor, sempre pronto para pregar contra a perpetuação de políticos no poder. Este fenômeno de reeleição e figurinhas carimbadas diz muito sobre a realidade de Brasília, hoje uma ilha da fantasia onde os nobres congressistas criam a realidade que lhes bem agrada. Isso inclui inventar mecanismos que beneficiam eles mesmos que, ao fim e ao cabo, são responsáveis por ditar as regras da Justiça e definir até mesmo o valor do próprio salário.
Destes mecanismos nada mais nocivo que o Fundo Eleitoral. Com um bolo milionário nas mãos, o “dono” (presidente) do partido distribui o dinheiro para quem tem mais chances e com quem mais simpatiza. Via de regra, esse “tem mais chances” encontra tradução em quem já está no Congresso, tem a visibilidade do mandato e, certamente, demonstra maior fidelidade ao partido. Logo, ganha mais dinheiro. Ao que tudo indica, esse dinheiro faz toda a diferença na hora do voto. Aliás, é o que deixa claro este estudo do Instituto Millenium. O dinheiro que sai do bolso do contribuinte, que anseia por renovação, financia justamente a perpetuação de quem já está no poder.
Esse quadro desavergonhado da política assim está por culpa do próprio eleitor. Jason Brenann dividiu os eleitores em três grupos: hobbits, hooligans e vulcanos. Os primeiros seriam os alienados, também chamados de “maioria silenciosa”, a maior fatia do eleitorado brasileiro. Os segundos, a minoria barulhenta. A turma que fica esbravejando nas redes sociais. Nenhum dos dois grupos dá muita bola para as ideias em uma eleição. “Os primeiros porque não prestam atenção; os segundos porque desde sempre já sabem tudo”, pontua o cientista político Fernando Schüler.
Sobrariam os vulcanos, eleitores do tipo racional, que ponderam os discursos, analisam as promessas e votam de uma maneira “consciente”. Seriam os eleitores ideais, mas são uma minoria irrelevante, infelizmente.
57,5%
foi a taxa de renovação registrada na Assembleia Legislativa de Santa Catarina