Os comparativos entre Jair Bolsonaro e Carlos Moisés
Faltam quatro semanas para que enfim estejamos dizendo adeus para 2022 e boas vidas para 2023. Nessa virada de ano, também acontecerá as viradas dos governos do Brasil e dos Estados. Nas próximas colunas, certamente traremos aqui o que os novos governantes devem encontrar assim que assumirem os seus respectivos cargos.
Porém, o assunto hoje é a não reeleição de Moisés e Bolsonaro, dois políticos de espectros políticos parecidos, que deixam o governo de formas completamente diferentes. Fica a questão do que se pode ter dado errado nesses quatro anos para que os dois ficassem pelo caminho durante o pleito.
Começamos por Carlos Moisés. O atual governador de Santa Catarina foi eleito diretamente na onda bolsonarista de extrema direita que se viveu em 2018. Antes de disputar a chefia do Estado, o então bombeiro não havia sequer ocupado um cargo em algum legislativo municipal.
Moisés foi aquele típico caso de pessoa que cai de paraquedas em alguma situação e por lá fica. Tudo fica mais claro, quando lembramos que antes do pleito de 2018, a chapa de Moisés e Daniela, ambos no PL na época, foi construída da noite para o dia. O casamento que foi arranjado, nunca vingou. Era perceptível que ambos não se bicavam, tudo ficou mais às claras quando os processos de impeachment caíram como uma bomba dentro do governo.
Daquele momento em diante inúmeras situações começaram a se desenhar e a levar ao resultado que observamos em outubro deste ano. Daniela, assim que assumiu interinamente o governo, tentou dar a sua cara a política estadual. Porém, ela se esqueceu que estamos falando de Santa Catarina, Estado esse onde tudo é muito variável e construído sob inúmeras surpresas.
Por fim, Daniela não seguiu adiante, Moisés retornou, tal qual aquele meme da rapper Karol Conká, “Um novo governador”. Isolou Daniela que tornou-se literalmente uma vice decorativa, adotou um viés municipalista, um verdadeiro pai para todos os municípios. Trouxe para si também partidos que antes andavam de cara virada, como foi o caso do MDB.
Mesmo com a abertura dos cofres para criar o Plano 1000, Moisés acabou ficando pelo caminho. Tudo isso pode ser visto como uma resposta dos catarinenses a pulada, ao menos em frente das câmeras, do barco de Jair Bolsonaro.
O que soa engraçado de certo modo é de que depois do resultado no primeiro turno, Moisés poderia muito bem estar apenas cumprindo tabela, tal qual quando faltam aqueles últimos minutos de jogo e um dos times já sabe que não consegue reverter o resultado.
O ex-bombeiro e quase ex-governador de Santa Catarina segue caminhando por todo o Estado, inaugurando obras, liberando verbas, aparecendo para o público. Carlos Moisés entrou como ninguém na Casa D’Agronômica e sai hoje como um político que certamente aprendeu, talvez de maneiras tortuosas, como se faz política. E já adianto, que nos próximos anos devemos ainda ouvir falar muito de seu nome.
Do outro lado da mesma moeda encontra-se Jair Bolsonaro, que chegou ao Palácio do Planalto no mesmo momento em que Moisés a Agronômica. Porém aqui a situação sempre foi alguns metros mais abaixo.
Jair Bolsonaro passou inúmeros anos dentro do Congresso, onde era conhecido por fazer parte do grupo intitulado como “baixo clero”, aqueles parlamentares que não têm importância para as discussões de vulto.
Mas Bolsonaro conseguiu capitanear para si a indignação de grande parte da população brasileira, que o levou a ser eleito presidente em 2018. Os quatro anos que se passaram, devem ainda ser muito estudados nas próximas décadas. O País, a cada novo dia que nascia, regredia em alguma situação.
Bolsonaro foi aniquilando cada setor: cultura, educação, saúde, assistência social, direitos humanos, cada um deles foi tendo os seus pilares arrancados. O sentido de tal “carnificina”, se era para beneficio próprio ou apenas de birra, ainda desconhecemos.
O atual presidente não sofreu processos de impeachment tal qual o colega catarinense, e isso tem muito a ver com fato das intenções políticas de Arthur Lira. Porém, Bolsonaro, que no início significava para muitos como a renovação, se perdeu no caminho. Hoje, seja dentro ou fora do País ele é considerado por muitos como alguém que não tem importância.
Passado o período eleitoral, percebemos claramente que enquanto Moisés segue construindo possibilidades de um futuro, Bolsonaro importa-se em apenas questionar a lisura das eleições ou, como acaba de ser publicado, importa-se em escolher a sua futura residência.
Escrevi toda essa construção, para chegar enfim ao ponto central dessa conversa. Atualmente Santa Catarina está passando por uma de suas piores catástrofes climáticas da história, muito do que vivemos nessa semana é reflexo da falta de investimento em desenvolvimento ambiental, proteção dos ecossistemas e de políticas públicas.
Porém, no meio de tudo isso fica perceptível como são literalmente dois lados de uma mesma moeda. Moisés, enquanto escrevo essa coluna, segue a todo vapor em busca de auxiliar as vitimas da tragédia. Bolsonaro, que sempre utilizou o Estado para lazer, passeio e votos e que aqui terá um representante em 2023, sequer mencionou o que aqui ocorre.
Tudo isso mostra que existem políticos e políticos, situações e situações. Nos próximos dias Jorginho Mello assumirá a cadeira de governador e pode encontrar pela frente um caminho bem tortuoso se não parar e observar o que vem acontecendo nos últimos tempos.
