Mais da metade das denúncias são de mulheres alegando que sofrem violência diariamente
Dados divulgados no início deste mês pelo Ministério das Mulheres apontam que, em Santa Catarina, atendimentos de casos envolvendo violência contra mulher pelo Ligue 180 aumentaram cerca de 15,5% em 2024, se comparados com dados de 2023. Ao todo, foram 17.185 atendimentos registrados. Destes, 4.029 foram formalizados como denúncias.
De acordo com as informações divulgadas pelo Ministério das Mulheres, 2.335 denúncias foram apresentadas pela própria vítima, enquanto 1.692 foram por terceiros. No que diz respeito ao local onde as situações de violência aconteceram, a casa das vítimas desponta como cenário de 1.492 das denúncias. A residência compartilhada por vítima e suspeito também é local de grande parte das denúncias em Santa Catarina, com 1.490 casos.
Outro dado que chama a atenção é o que se refere ao número de mulheres que relataram, em atendimento no Ligue 180, que sofriam violência doméstica diariamente. Foram 1.848 atendimentos registrados sob este contexto. Sobre o tempo em que ocorreu a violência, 978 responderam que acontece há mais de um ano.
Um dado que difere em Santa Catarina do restante do território nacional, se refere à etnia das vítimas. No Estado, a maior parte das denúncias vieram de mulheres brancas. Sob uma perspectiva do território nacional, 52,8% das vítimas são mulheres negras.
PLANALTO NORTE
Dados mais recentes divulgados pela equipe da Rede Catarina de Proteção à Mulher do 3º Batalhão de Polícia Militar, em novembro de 2024, apontam que eram 359 medidas protetivas ativas de mulheres contra seus agressores na Comarca de Canoinhas naquele mês.
Deste total, 214 medidas foram registradas por mulheres com residência no próprio município de Canoinhas. Na sequência, o município de Três Barras, com 112 medidas protetivas ativas no momento.
Major Vieira, conforme as informações oficiais, possui 25 medidas protetivas de mulheres contra seus agressores. Bela Vista do Toldo possui oito medidas protetivas ativas.
Em todo o território catarinense, segundo números do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) divulgados pelo Observatório da Violência contra a Mulher, o número de medidas protetivas registradas entre janeiro e outubro de 2024 chega a 25.465.
FEMINICÍDIO
Neste mesmo período, entre janeiro e outubro de 2024, Santa Catarina registrou 46 casos de feminicídio. O número equivale a uma mulher assassinada a cada 6,6 dias, conforme os dados também divulgados pelo Observatório de Violência contra a Mulher em Santa Catarina.
Março foi o mês com o maior número de mortes, 10 no total, enquanto agosto e abril tiveram a menor quantidade, três cada um. Em Canoinhas, no mês de maio, um homem foi preso por equipes da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Canoinhas, acusado de ter matado a própria esposa, dentro de casa.
O crime teria acontecido entre os dias 13 e 14 de maio, quando uma mulher foi atendida por equipes do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), após ter sido encontrada caída no chão de sua casa, com um ferimento contundente na cabeça, que ocasionou afundamento de crânio.
A vítima chegou a ser transferida ao Hospital São Vicente de Paulo, em Mafra, devido à gravidade de seu estado de saúde. Ela foi atendida por equipes especializadas e ficou em observação, mas morreu na tarde do dia 21 de maio.
Os policiais militares que atenderam à ocorrência conversaram com o companheiro da mulher, que alegou que teria saído de casa pela manhã e, quando retornou, a encontrou caída no chão, inconsciente.
Por não haver indícios suficientes para conduzir o homem à Delegacia, de acordo com informações da Polícia Militar, ele foi ouvido e liberado ainda no Pronto Atendimento.
A mãe da vítima também foi ouvida pelos policiais. Ela alegou que brigas e agressões são constantes por parte do homem em relação a sua filha. Há, inclusive, o registro de uma medida protetiva da moça contra o homem, que teria sido retirada em novembro de 2023.
O mandado cumprido pela equipe da DIC tinha justamente o companheiro da mulher como alvo. Ele foi preso temporariamente e encaminhado ao presídio de Canoinhas, onde permanece à disposição da Justiça.
TENTATIVA
Jayne Thalia Julinski, 26 anos, foi esfaqueada no pescoço e em outras três partes do corpo pelo ex-companheiro, Cilomar Santos, 29 anos, no mercado Alfa, local no qual a moça trabalha, no centro de Bela Vista do Toldo. Ela foi socorrida pelo Serviço Móvel de Urgência (Samu) e foi levada em estado grave para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Canoinhas.
Segundo o Samu, quando os socorristas chegaram no local, a vítima estava sentada sendo amparada por colegas de trabalho que utilizaram uma blusa para conter a hemorragia. A equipe deu prioridade no embarque da vítima e realizando os protocolos de contenção hemorrágica, priorizando o transporte até a UPA de Canoinhas. Antes de chegar na UPA, Jayne entrou em parada cardiorrespiratória, processo que foi revertido na Unidade.
Depois de quase um mês internada, Jayne se recuperou e deixou o hospital. Cilomar se apresentou com seu advogado na Delegacia de Bela Vista do Toldo somente sete dias depois do crime. Como havia mandado de prisão preventiva expedido contra ele, Cilomar foi imediatamente encaminhado para o Presídio Regional de Canoinhas.
Uma das pessoas que auxiliou Jayne logo após o brutal ataque de seu ex-companheiro foi Celine Adur, ela concedeu entrevista ao JMais sobre o caso e sobre a preocupação que também tem em relação aos crescentes casos de violência contra a mulher na região. Assista abaixo: