Quedas em preços de materiais e baixa procura de empresas compradoras são alguns dos fatores
O setor da reciclagem vive, atualmente, uma crise considerável que envolve, entre outros fatores, baixa valorização do material reciclado e insegurança tributária. O preço da tonelada do papel e do papelão sofreu queda nos últimos anos, deixando de ser atraente para catadores e gerando acúmulo de materiais. Em Canoinhas, a crise de âmbito nacional também gerou impactos.
O ápice do quilo do papelão foi há alguns anos, quando chegou a R$ 2. Atualmente, o valor do quilo do material que é vendido para a indústria é de apenas R$ 0,60. A crise é maior no setor de papel e celulose. Muitas empresas criaram suas próprias fazendas de pinus.
Em agosto de 2010, o Congresso Nacional aprovou o que é considerada uma das leis mais modernas do mundo sobre gestão de resíduos. Foram duas décadas de elaboração até que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) entrasse em vigor, trazendo planos e metas para estimular o reaproveitamento de materiais e a destinação correta de lixo. Depois de um período de euforia, o setor chega em 2024 com várias questões a resolver. Membros do setor dizem que nunca viram tantos problemas se acumularem, numa espiral que inclui baixa valorização do material reciclado, insegurança tributária e falta de linhas de crédito.
Em Canoinhas, no final de 2023, o setor também foi afetado por fatores envolvendo problemas estruturais e questões climáticas. À época, a coleta dos recicláveis era realizada pela GR Soluções Ambientais, que prestava serviço de coleta de resíduos ao Município. Os materiais eram levados ao espaço cedido pela Prefeitura à cooperativa Recanto da Reciclagem, onde eram separados e encaminhados às empresas responsáveis pelo processo final de reciclagem.
Com as enchentes registradas no Planalto Norte em outubro do ano passado, muitos associados à cooperativa deixaram de exercer as funções por certo período, assim como coletores acumularam grande quantidade de materiais recicláveis, que foram entregues todos de uma vez, acarretando também, em um montante de resíduos que extrapolava a capacidade do local onde funciona a cooperativa.
Conforme o secretário de Meio Ambiente de Canoinhas, Agostinho Machado Filho, a queda no preço dos materiais recicláveis é consequência da falta de interesse das empresas que compravam costumeiramente os resíduos. Segundo o secretário, a realidade se estende em outros municípios da região. “O nosso termômetro costuma ser o número de catadores que vemos nas ruas e que até pouco tempo atrás não se via quase nenhum”, comentou.
Representantes da cooperativa Recanto da Reciclagem foram procurados pela reportagem do JMais, mas eles se recusaram a se manifestar sobre o tema. Informações do secretário de Meio Ambiente, no entanto, apontam que todos esses fatores que envolvem a crise também acarretaram em diminuição do faturamento dos associados.
COLETA DE RECICLÁVEIS
Hoje a coleta de recicláveis em Canoinhas é feita pela Versa, ex-Serrana. Há uma programação de bairros e ruas de modo que cada morador do centro e bairros receba a coleta ao menos uma vez por semana. Esses recicláveis continuam sendo levados para a Cooperativa.
Nesta cadeia, há falhas desde a coleta até a falta de capacidade da Cooperativa em processar tantos recicláveis, passando pelo desconhecimento das pessoas do que é considerado reciclável.
O problema é que, de 2022 para cá, os valores só caíram, enquanto os custos operacionais (diesel para os caminhões e energia, por exemplo) continuaram subindo.
Segundo a Associação de Aparistas de Papel (Anap), não é raro ver hoje caçambas cheias de papelão ignoradas por catadores por causa da baixa demanda e do preço pouco atraente. Mais um problema para o poder público resolver.