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Brasil, terra arrasada

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PEC da transição é atualmente a maior das necessidades

Começo a coluna de hoje fazendo um retorno a um passado um pouco distante, mais precisamente no período  da Segunda Guerra Mundial, quando o exército da então União Soviética colocou em prática o que viria a ser conhecido como Terra Arrasada.

O método era simples. Consistia em recuos propositais para que se evitasse confrontos com os invasores e, em seguida, a destruição de tudo aquilo que pudesse ser utilizado pelo lado inimigo, como abrigos e alimentos. Mas o que uma tática lá da primeira metade do século passado tem a ver com a política atual brasileira? Afirmo que tudo, e explico o porquê.

Nesta semana fomos bombardeados por informações oriundas dos mais variados ministérios brasileiros de que o dinheiro simplesmente acabou. A deputada federal eleita por São Paulo, Marina Silva (Rede), que faz parte do Governo de Transição, utilizou a mesma expressão para se referir ao que o grupo tem encontrado nesse momento nos corredores da capital federal.

Desde que Lula foi conclamado presidente da República, os meandros de Brasília estiveram em polvorosa, isso porque os últimos quatro anos foram de revés em inúmeras situações e políticas públicas. E da noite para o dia o bolsonarismo acabou perdendo o lugar que tanto quis ter para si por mais 4 anos.

Essa movimentação começou a surgir no horizonte, afinal durante a campanha presidencial, Lula afirmou enfaticamente que uma das primeiras revogações feitas por ele, será em cima dos inúmeros sigilos de 100 anos adotados por Bolsonaro e colegas para os mais variados assuntos. Pois se algo precisa ser escondido por 100 anos é porque a situação é deveras complicada de ser explicada e pode atingir diretamente grande parte do clã.

Imagino que dentro de todas as salas do Palácio do Planalto e da explanada dos Ministérios devam ter sidos dias difíceis de serem contextualizados nesse texto. Dividiu-se os meses finais do governo entre os apoios aos movimentos antidemocráticos e as tentativas de se buscar uma possível anulação do sistema eleitoral. Alguns poderiam dizer que por uma sorte imensa, a democracia brasileira seguiu forte por causa do TSE e do STF.

Porém, era necessário fazer algo, não haveria a possibilidade de se entregar um governo de uma forma tão tranquila e leve, se isso for realmente possível no Brasil atual.

Ao final de tudo, optou-se por utilizar a técnica apresentada pelos soviéticos no século passado. Os caixas dos Ministérios da Saúde e da Educação foram devidamente raspados, o do INSS foi tão fortemente atingido que não há dinheiro nem para o seu próprio funcionamento. Até órgãos tão ligados ao bolsonarismo como é o caso da PF e da PRF não escaparam.

Atualmente em pleno período de férias e viagens de final de ano, a PRF não tem dinheiro para fazer a manutenção básica das suas viaturas. Já, se você deseja viajar para o exterior e não tem passaporte é melhor deixar para 2023, afinal a PF não tem dinheiro para a emissão do documento.

Em outras colunas eu já afirmei aqui que Bolsonaro, diferente de outros políticos, como é caso de Carlos Moisés, sairia pequeno do governo, porém a atual situação faz com que o quase ex-presidente deixe o cargo como alguém que por ali nunca deveria ter passado.

Muitos podem dizer que a falta de dinheiro pode ser oriunda de questões como a pandemia e a guerra na Ucrânia. Isso até caberia em outros momentos, talvez lá no início do ano, mas agora não cola mais.

A situação vivida por entidades de ensino como é o caso das Universidades Federais é insalubre. As instituições já se encontravam em total abandono, já haviam sofrido cortes durante o ano de 2022, porém o que aconteceu agora, nos últimos minutos de Bolsonaro no poder, é inacreditável.

A Universidade Federal de Minas Gerais tinha R$ 76 em caixa que foram retidos pelo governo. Aqui no Estado, a UFSC já afirmou que não terá dinheiro para sequer manter o restaurante universitário, o qual é muitas vezes o único local de alimentação dos estudantes.

Estou citando como exemplo as universidades, mas os cortes, o sistema de terra arrasada feita por Bolsonaro e Paulo Guedes é muito maior. Nesse mês inúmeros pesquisadores e estudantes que são bolsistas não terão para si o seu pagamento. Os aposentados e pensionistas do INSS podem ter os seus pagamentos também atrasados como bem afirmou o próprio ministro Guedes.

No meio de tudo isso uma parte da sociedade se encontra diariamente questionando as propostas da PEC da transição, a qual vai extrapolar na casa dos milhões o teto de gastos para 2023 que já estava muito extrapolado e vinha sofrendo cada vez mais durante a gestão de Bolsonaro.

O que Lula e o Governo de Transição estão fazendo pode sim empurrar o Brasil para um possível agravamento da crise financeira pelos próximos dois anos. Porém, a PEC da transição é atualmente a maior das necessidades, mas principalmente aqueles que mais sofreram nos últimos anos, possam enfim, respirar um pouco mais aliviados.

Nos primeiros meses de governo petista, o Brasil ainda se encontrará em um modelo de terra arrasada. A reconstrução de tudo o que fez o Brasil ser um dia uma das maiores economias do mundo, pode demorar um pouco, mas ainda é algo possível de se sonhar.

Lula, ao subir a rampa do Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2023, terá um trabalho muito maior do que em 2003, e nesse momento deve ter ao seu redor os maiores, melhores e mais importantes nomes para que o governo não caia tão rápido no ostracismo.