Max fura bolha do streaming e coloca história na boca do povo
BELEZA FATAL
Foi de fato surpreendente a repercussão que ganhou Beleza Fatal, primeira novela lançada pelo Max, streaming da HBO, no Brasil. Com 40 capítulos, a história não é só enxuta como vale cada minuto.
Raphael Montes, roteirista de Bom Dia, Verônica, já tinha demonstrado talento para entreter, mas o que se revela com Beleza Fatal é um combo de Aguinaldo Silva, Gilberto Braga e Sílvio de Abreu, simplesmente três dos maiores autores de novela da história.
Espertamente, o autor reúne o que aprendeu de melhor com estes três mestres, condensa e extrai o que realmente segura o espectador. Dá-lhe reviravoltas, brigas homéricas, promessas de que ‘eu vou acabar com você’ e tramoias das mais ardilosas entre os personagens.
Ajuda, também, o trio de protagonistas. Camila Pitanga é Lola, mulher ambiciosa que não hesita em passar por cima de quem for preciso para conseguir o que quer. É dessa forma que ela desgraça a vida de Sofia (Camila Queiroz), que depois de perder a mãe por causa das tramas de Lola, decide se vingar. Para isso, conta com o apoio de sua família adotiva, formada pelos Paixão, liderados por Elvira (Giovana Antonelli, assumindo a idade, em estado de graça). As três movem o folhetim, mas nenhum com o carisma de Lola, que ganhou o carinho dos gays ao disparar manifestos a favor da liberdade sexual. “Viva as gays” virou hino e chegou a fechar boates no último capítulo da novela.
Se incomodou a Globo? Certamente sim, não em audiência, já que a novela foi exibida para um restrito público que assina o Max e mesmo sendo exibida na TV aberta, pela Band, obteve índices discretos de audiência. Mas incomoda por esfregar na cara da toda poderosa que o segredo para manter o gênero, talvez, seja, escrachar sua vocação e não buscar histórias mais sofisticadas ou causas woke, como tem sido a tônica dos últimos anos.
Curiosamente, Beleza Fatal estreou em momento de crise, com Mania de Você colecionando surras no Ibope e a poucas semanas de a Globo apostar todas as suas fichas no remake de Vale Tudo, que estreou nesta semana. A novela de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva é um marco da história da TV brasileira, parando o Brasil em 1989. Resta saber se será mantida a verve folhetinesca do original ou a autora Manoela Dias vai querer lacrar. A ver.
