Mudas clonadas já foram plantadas na própria cidade de Cruz Machado
Em uma emocionante reviravolta na pesquisa florestal brasileira, a equipe da Embrapa Florestas, localizada no Paraná, conseguiu um feito extraordinário: clonar uma araucária (Araucaria angustifolia) que tinha impressionantes 700 anos de idade! A árvore, que desabou durante um violento temporal em Cruz Machado em outubro de 2023, era a maior do estado e um verdadeiro ícone da paisagem local.
O projeto de resgate genético resultou em mudas clonadas que já foram plantadas na própria Cruz Machado, onde a majestosa árvore original estava erguida. Clonar uma planta tão antiga não foi uma tarefa simples. A regeneração de tecidos de árvores idosas é bastante limitada, mas o pesquisador Ivar Wendling conseguiu um feito admirável: produziu quatro mudas a partir do tronco da araucária, preservando o precioso DNA da árvore original.
“Resgatar uma araucária tão antiga e cloná-la com sucesso é uma conquista científica”, celebra Wendling, com razão. As mudas clonadas, embora sejam originárias de tecidos adultos e, portanto, menores em porte, têm uma vantagem: começam a produzir pinhão mais cedo do que as árvores convencionais. Isso pode ser uma ótima notícia para os produtores rurais que buscam o uso sustentável da espécie, já que o pinhão é um alimento tradicional e tem se tornado cada vez mais valorizado comercialmente.
Mas não se engane: essas mudas ainda são frágeis e precisam de cuidados especiais nos primeiros anos. Irrigação adequada e controle de concorrentes naturais são fundamentais para garantir que elas cresçam saudáveis e continuem o legado da árvore original. “A árvore original sobreviveu por séculos, mas essas mudas precisam de atenção para prosperar”, ressalta Wendling.
Falando em técnicas, a clonagem foi realizada por meio da enxertia, um método que une um fragmento da planta original a uma muda jovem. Assim que a árvore caiu, brotos foram coletados e enxertados em mudas já estabelecidas, assegurando que o novo indivíduo mantenha o mesmo material genético da planta-mãe. Esse processo inovador permite a regeneração da árvore a partir das próprias células, conservando características como resistência e produtividade.
Existem diferentes formas de enxerto: a partir de brotos do tronco ou do galho da árvore, cada uma resultando em plantas com características distintas. As mudas de tronco tendem a se desenvolver como árvores convencionais, enquanto as de galho geram as chamadas “mini araucárias”, ambas capazes de produzir pinhões precocemente. Após a enxertia, as mudas passam por um período de crescimento antes de serem plantadas em campo.
Vale destacar que, no caso de árvores muito antigas, a clonagem é um desafio devido à baixa capacidade de regeneração dos tecidos mais velhos. Com o tempo, as células das plantas diminuem sua taxa de multiplicação e perdem parte da habilidade de gerar novos indivíduos. Além disso, as árvores centenárias possuem um sistema hormonal diferente, o que pode dificultar o crescimento dos enxertos.
Para a araucária de 700 anos, o pesquisador Wendling precisou realizar uma série de experimentos para descobrir as condições ideais de cultivo das mudas clonadas. O sucesso desse procedimento não apenas marca um avanço significativo na tecnologia florestal, mas também abre portas para a conservação genética de outras árvores centenárias. Uma verdadeira vitória para a natureza e para a pesquisa!