Assunto pouco discutido está no cerne da nossa história
PASSADO E PRESENTE
COLUNA DE DOMINGO Um povo sem memória é um povo sem futuro. Nisso, Canoinhas e região são pródigas. Com pouco interesse das figuras públicas – e isso vem de muitos anos – perdemos marcos históricos, construções centenárias e assassinamos a história local sem cerimônia.
Vez ou outra aparece um anjo salvador da história. Papel que por muitas vezes foi de Orty Machado e Fernando Tokarski, responsáveis por obras monumentais como, no caso de Tokarski, o livro Cronografia do Contestado, um documento valiosíssimo esgotado e sem possibilidade de ser reimpresso. Às vésperas de Canoinhas completar 110 anos seria bem conveniente pensar em resgatar obras como esta, mas nem se fala no assunto.

Nesse cenário de terra (ou seria história) arrasada, Ricardo de Campos e Namblá Gakran (já falecido) nos brindaram com um dos mais relevantes livros para entendermos em parte nossa gênese. O Povo Laklãnõ e os outros romanceia uma história real. Aborda a invasão estrangeira e a expulsão a força do povo laklãnõ destas instâncias. Os bugreiros – assassinos de índios contratados por empresas e migrantes – varreram boa parte dos nativos que por aqui viviam, sem cerimônia e proteção zero do Estado. Isso antecede a Guerra do Contestado, auge da limpeza étnica promovida com gosto pelo Governo Federal para “embranquecer” a população sulista. Foi assim que recebemos os primeiros alemães, poloneses e ucranianos. Os bugres, ou xoklengs (os não cristãos), que por aqui viviam, receberam essas denominações pejorativas dos bugreiros. Se fossem indagados sobre como gostariam de ser chamados falariam laklãnõ, por isso a ênfase dos autores. Namblá era descendente desse povo, assim como muitos de nós, eu inclusive, filho de descendente de índios (minha mãe) e de descendente de poloneses (meu pai).
Porém, nada foi perguntado aos índios que por aqui viviam. Foram apenas varridos do mapa com a mais absoluta violência. Em seu lugar veio o “progresso” figurado na estadunidense Lumber e nos colonizadores que fugiam da Europa, mergulhada na 1ª Guerra Mundial.
Canoinhas e região se construíram tal como são hoje em cima do colonialismo e a chacina de índios. Isso diz muito sobre nós e precisa ser discutido. Não podemos apagar o passado, como insistimos em fazer, se queremos nos entender como povo.