Em 2024, dois jovens morreram soterrados em silo de grãos no município de Monte Castelo
Os jovens Lucas Antonio Djubanski, de 23 anos, e Gabriel Pereira dos Santos, de 21 anos, morreram em abril de 2024, após caírem em um silo de grãos e serem soterrados, em Monte Castelo. De acordo com o boletim do Corpo de Bombeiros à época, segundo relatos de colegas que estavam por perto, a primeira vítima subiu até o topo do silo para tentar desobstruir os grãos e acabou caindo no interior. Logo, o outro rapaz entrou para auxiliar o primeiro, tornando-se a segunda vítima.
O caso dos jovens de Monte Castelo é apenas um dos que compõem estatísticas ainda imprecisas no Ministério da Previdência Social, visto que ainda não há classificação específica de acidentes envolvendo silos de grãos, por mais que ao menos 100 tenham sido registrados em todo o território nacional em 2023.

Na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) do ministério, o termo é geral, ou seja, “armazenamento”. O mesmo acontece ao se pesquisar por setor econômico na página do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab), em que a ocupação “operador de silo” nem aparece.
CULPA DAS VÍTIMAS?
Segundo a ministra Kátia Arruda, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), os acidentes com trabalhadores nessas condições estão aumentando. “Toda jurisprudência que envolve silos demonstra que o ambiente é profundamente perigoso, e o número de mortes tem crescido exponencialmente”, afirma.
O alerta da ministra veio à tona no julgamento na Sexta Turma do TST do recurso do espólio do empregado de uma empresa de grãos do município de Cambé (PR). Ele teria ido raspar resíduo de soja, e uma das bicas do silo foi aberta para escoar mais produto. Foi quando o trabalhador foi sugado para baixo pela força da gravidade dos grãos e totalmente engolfado por eles.
Neste caso em específico, a empresa alegou que o colaborador estava sem cinto trava-quedas e que ele teria agido com “descuido e excesso de confiança”. A Sexta Turma, porém, reconheceu a culpa concorrente da empresa.
No caso de Monte Castelo, o delegado Eduardo Borges contou que a Polícia Civil realizou perícia no local e que a linha de investigação apontava que houve quebra das normas de segurança do trabalho que não estavam sendo seguidas.
Os bombeiros tiveram de fazer um corte na estrutura de metal na parte inferior para que os corpos dos dois jovens fossem retirados, já que a saída de escoamento principal estava obstruída. Os corpos foram depositados em cima da carroceria de uma carreta que estava na parte inferior. Da carreta para baixo foi montado um sistema por meio do qual os corpos foram descidos até o solo com o emprego de uma maca envelope.
ENGOLFAMENTO OU SOTERRAMENTO
O engolfamento acontece quando um trabalhador, que está sobre uma superfície aparentemente sólida de grãos, é subitamente sugado por eles. Isso acontece geralmente devido à formação de um vácuo no armazenamento. O que parecia ser uma base firme se transforma em uma areia movediça, e a vítima acaba sufocando.
O soterramento foi o que tirou a vida de jovens na cidade de Monte Castelo. Neste caso, uma placa de grãos, que estava presa em uma parte do silo, se solta e desaba sobre os trabalhadores. Eles ficaram soterrados sob toneladas de grãos, sem chance de escapar.
Mato Grosso do Sul, ao lado de estados como Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná, está no topo da lista de acidentes em silos. Entre 2020 e agosto de 2024, foram documentados 16 casos fatais, segundo dados da fiscalização do trabalho. Chama a atenção que, em quase 40% desses acidentes, os trabalhadores morreram devido à asfixia causada por engolfamento e soterramento em grãos.
Profissionais da saúde e segurança do trabalho apontam que a situação requer uma atenção urgente. A dificuldade em obter estatísticas mais precisas dificulta a identificação e o tratamento desse tipo de acidente, tornando essencial a implementação de medidas de proteção mais eficazes.