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Pais e mães deveriam ver Adolescência, novo fenômeno da Netflix

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Série é um soco no estômago de pais condescendentes

ADOLESCÊNCIA

A nova Bebê Rena da Netflix também chegou de mansinho e em um fim de semana conquistou uma legião de fãs mundo afora. A minissérie inglesa Adolescência nada tem a ver com o fenômeno anterior e é, mais que entretenimento, uma lição, especialmente para pais condescendentes, omissos e que sempre vão achar que seus filhos são os melhores.

O criador da série, Stephen Graham, disse em entrevistas que queria que os pais de Jamie (o impressionante Owen Cooper, de 13 anos), acusado de assassinar uma colega de escola a facadas, fossem “normais”, entenda por isso, pessoas bem-intencionadas, trabalhadores, que buscam o melhor para os filhos. Eles amam seus rebentos de verdade e, talvez justamente por isso, buscam ser o menos castradores possível. A ideia é de que fossem pais melhores do que os seus pais foram para eles, um mantra dos papais contemporâneos.

Em determinado momento da minissérie, em um mea culpa que dói só de ver, os pais de Jamie fazem um exercício de expiação, tentando encontrar as fissuras da relação pais e filho que deixaram incutir na mente de Jamie uma inspiração extremista. Lembram que não se importavam de o filho ficar trancado no quarto, até altas horas no computador. “Quando eu chamava a atenção, ele apagava a luz”, diz a mãe chorosa.

Adolescência nos ganha por não apresentar respostas fáceis para nenhuma das perguntas feitas pelos pais. Aponta, ainda, para um problema maior: a total desconexão dos adultos com os adolescentes, que cada vez mais parecem viver em uma outra realidade. O episódio em que o investigador do caso descobre que interpretou tudo errado com relação a postagens no Instagram por simplesmente desconhecer o significado de emojis é didático.

Da dor dos pais que se deparam com uma situação inimaginável, a minissérie extrai uma lição aos pais que acham normal o filho virar madrugadas no telefone celular ou no computador. Estão estudando? Pesquisando? Aproveitando todo o conhecimento infinito que a internet disponibiliza?

Dificilmente, sim. Na maioria do tempo eles estão se relacionando, vivendo muito mais no mundo virtual do que no real. A distorção da realidade, já detectada em jovens, só piora quando o virtual se torna mais relevante do que o real, notadamente materializado na escola, muito bem retratada na minissérie – um misto de professores que fingem que ensinam e alunos que fingem que aprendem. O futuro é realmente nebuloso.

Não poderia encerrar este texto sem elogiar a direção impecável de Adolescência. Cada episódio é filmado em um único plano sequência e, jura a produção, não tem truque, é como teatro filmado mesmo. Uma façanha que só reforça ainda mais essa história notadamente poderosa. Como disse a crítica de O Globo, não vai sair da sua cabeça.