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Documentários que concorrem ao Oscar 2025 são suprassumo do mundo cão

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Guerras, violência sexual, massacre indígena e golpe de estado inspiram documentaristas

OSCAR 2025

É preciso estar com a mente aberta e o coração tranquilo para assistir aos cinco documentários que concorrem ao Oscar deste ano. Padres que estupram índias e incineram bebês, crianças vendo a escola destruída por retroescavadeiras, uma jornalista dopada e violentada por um entrevistado e o cinismo belga e americano para pilhar um país africano são alguns dos assuntos abordados. A excelente seleção torna difícil cravar um vencedor. Mas todos têm o mérito de chamar a atenção do mundo para o que este planeta vem se tornando.

Sugarcane, um dos favoritos, acompanha pai e filho rememorando um caso que chocou o mundo quando revelado. Sepulturas sem identificação foram descobertas em um terreno administrado pela Igreja Católica no Canadá. Desvendou-se, a partir daí, uma sinistra articulação entre igreja e governos, também nos Estados Unidos, para “educar” comunidades indígenas dentro dos dogmas da igreja e do sistema estatal de ensino. Mas isso é o menor mal que essas escolas fizeram para os índios. Mulheres eram estupradas sistematicamente por padres, que contavam com a ajuda de freiras para se livrar das crianças que eventualmente nasciam fruto do abuso. O personagem escolhido pelos diretores Emily Kassie e Julian Brave NoiseCat para ser o fio condutor da história foi salvo quando já estava dentro de um incinerador.

Falando em abuso, Diários da Caixa Preta acompanha uma jornalista japonesa que é dopada e estuprada pelo entrevistado. Amigo do então primeiro ministro Shinzo Abe, o abusador fez de tudo para desmoralizá-la e, especula-se, contou com apoio do governo para tentar se livrar da acusação. A insistência de Shiori Ito, que conduz uma investigação paralela a da Polícia, faz o caso ser levado ao tribunal anos depois do ocorrido.

A guerra é abordada em duas obras. Guerra da Porcelana, embora se passe no auge do conflito na Ucrânia, é, acredite, o mais leve de todos. Isso porque mostra, com muita sensibilidade e até de forma otimista, a vida de artistas que conseguem enxergar arte em meio a tanta violência. Eles se mantêm na sua terra, mesmo que por momentos tenham de pegar em armas para proteger seu país.

O outro filme sobre guerra choca tanto quanto os outros (ou mais). No Other Land mostra a luta dos moradores de uma vila ao sul da Cisjordânia para tentar manter seus lares. Masafer Yatta é ocupada desde 2016 por soldados israelenses. O jornalista israelense Yuval se une ao ativista palestino Basel para registrar as investidas truculentas dos soldados israelenses. A justiça de Israel, vejam só, determinou que a área reconhecida internacionalmente como dos palestinos, é um ponto estratégico e determina que lá seja instalada uma base militar israelense. É de ranger os dentes ver soldados atirando e aleijando um homem que só pergunta “Por que?”, mas nada supera ver crianças em desespero sendo expulsos de sua escola, destruída por uma retroescavadeira diante deles.

Por fim, Trilha Sonora para um Golpe de Estado é menos convencional. A narrativa atordoante pode parecer difícil, por isso recomendo que antes de assistir às 2h30 de documentário pesquise um pouco sobre a história política do Congo. Com uma minuciosa pesquisa de imagens e cheio de referências musicais, o documentário mostra toda a sujeira por trás da independência do país africano. O que parecia ser uma concessão dos belgas e americanos se mostrou uma grande cilada para os congoleses.

De modo geral, os documentários que disputam o Oscar neste domingo, 2, são um retrato nada agradável do que nos tornamos enquanto sociedade. Não há muita esperança para ninguém.