Palavras vazias e promessas genéricas dominaram o encontro
DEBATE
Chamar de morno o debate entre os cinco candidatos a prefeito de Canoinhas realizado pelo JMais na noite desta quinta-feira, 3, seria depreciar o termo. Aliás, o termo é totalmente inadequado. O que se viu foram cinco candidatos demonstrando claramente interesses difusos, colocando a proposição de ideias claras e executáveis para último plano.
Este foi o único debate que a prefeita Juliana Maciel Hoppe (PL) participou. Os que tanto clamaram por sua presença no debate da Rádio Clube na semana passada a isolaram. Vá entender. Poderia ser chamado de estratégia, mas vamos combinar, que estratégia capenga. Se havia munição contra Juliana, por que não aproveitar o momento para colocá-la contra a parede? As ferramentas para isso foram fornecidas pelo próprio regulamento do debate. O candidato poderia chamar qual adversário quisesse para comentar suas respostas e, principalmente, responder suas perguntas, sem limitações. Dessa forma optaram por instar Samuel Lubke (PRTB) o dobro de vezes em relação a Juliana. Foram seis chamados para Lubke ante três para Juliana. Cleverton Durau (Podemos) foi chamado quatro vezes. Já Andrey Watzko (PT) e Paulo Basilio (MDB) foram chamados três vezes.
Juliana, por sua vez, pouco propôs e se limitou a usar o pouco tempo que teve para falar obviedades e pedir voto. Quando instada com perguntas mais constrangedoras como quando Basilio apresentou o parecer do Ministério Público sobre a UPA, desconversou.
Se não foi o melhor do debate, Basilio pelo menos foi mais assertivo, mas desperdiçou as chances que teve para confrontar Juliana jogando conversa fora com Lubke. Isso diante da cidade inteira (até a manhã desta sexta o debate tinha sido acessado 21 mil vezes no YouTube. Considerando que em muitos casos cada dispositivo tinha mais de uma pessoa assistindo e que nossa população é de 54 mil pessoas, não é exagero a afirmação). Se Juliana tem mesmo vantagem como apontam as duas pesquisas divulgadas até agora, não faz muito sentido a estratégia de isolá-la. O MDB disparou tanta coisa contra Juliana nos último dias, mas se limitou a questão do pediatra, assunto que, aliás, segue nebuloso para a maioria da população e até da imprensa. Basilio chama Juliana de mentirosa e a prefeita devolve a ofensa. Quem tem razão fica ao gosto do freguês.
No debate da Clube o clima pesou entre Basilio e Durau. Ontem, Basilio não tomou conhecimento de Durau, mas Lubke, inexplicavelmente, decidiu atacar o candidato com uma ofensa pessoal, o que deu direito de resposta a Durau. A troco de que? Os dois aparecem com menos de um dígito nas pesquisas. Durau, por sinal, era o que mais demonstrava estar desnorteado. O candidato tem confidenciado seu desgosto com os bastidores dessa eleição.
Andrey Watzko (PT), que prometia “esquentar” o debate, nem sequer atiçou uma brasa. Se gentileza somar votos, certamente ganhou. Teve seu momento mais importante ao criticar o MDB, escapando da impressão de dobradinha deixada no debate da Clube.
Restou o protagonismo de Lubke, falando obviedades e repisando prioridades como combate ao tráfico de drogas e criação de guarda municipal.
ALTOS & BAIXOS

Andrey Watzko foi bem ao atacar o MDB, retirando a impressão que ficou, do debate da Rádio Clube, de que teria feito dobradinha com Basilio. Independente de o ataque ter ou não procedência, a tentativa do candidato de se desligar de Basilio foi feita.
Foi mal ao titubear na crítica ao polêmico vídeo em que Juliana jogou livros no lixo. Tema caro à esquerda, o extremismo bolsonarista que levou à prefeita a tal ato poderia ter sido combatido de forma mais enfática, mas o candidato foi bem ameno na crítica.

Cleverton Durau foi bem ao demonstrar humildade na resposta ao ataque pessoal de Samuel Lubke relacionado a sua empresa.
Foi mal ao responder pergunta sobre o que pretende fazer, caso eleito, para incentivar a literatura. Parecia estar falando sobre física nuclear, tal desconhecimento do assunto.

Juliana Maciel foi bem quando citou o marido para falar sobre sua relação com o autismo. Demonstrou empatia com a causa.
Foi mal quando lembrou escândalo da MedKos para escapar de explicar o relatório do MPSC sobre a polêmica do pediatra da UPA. Justificou o que parece ser um erro com outro erro.

Paulo Basilio foi bem quando apresentou o parecer do Ministério Público sobre a UPA. Demonstrou ser o mais articulado e mais incisivo dos cinco candidatos.
Foi mal ao errar o alvo, elegendo Samuel Lubke como boi de piranha para isolar Juliana. Pode ser estratégia, mas não fez sentido nenhum.

Samuel Lubke foi bem ao expor as relações do passado da prefeita Juliana com o PT, Beto Passos e Renato Pike, afirmando ser o único bolsonarista do debate.
Foi mal ao falar várias obviedades no vasto tempo que teve.
AO PÉ DA ORELHA
Nos bastidores, quem viu estranhou as várias vezes em que candidatos cochicharam ao pé do ouvido. Parece (será?) que tinha mais de dois combinados.
PLATEIA
Outro indício é a impressão de algumas pessoas da plateia de que havia mais partidários de Juliana Maciel Hoppe (PL) e Paulo Basilio (MDB) que dos demais. A produção distribuiu, rigorosamente, 50 ingressos por candidato. Se algum deles tinha mais partidários que os demais, a única explicação está na doação de ingressos de um para o outro.
EXTINTO
O juiz eleitoral Eduardo Veiga Vidal extinguiu a ação movida pela campanha de Juliana Maciel Hoppe contra a de Paulo Basilio que pedia a remoção dos vídeos em que Basilio acusa a UPA de contratar “falso pediatra”. O magistrado não entrou no mérito da questão, apenas apontou que não é de sua competência. “O conteúdo mencionado na inicial restringe-se a publicações em redes sociais e, para além disso, atinge, em tese, a honra subjetiva de pessoa que não participa do processo eleitoral, de modo que não se há falar em intervenção desta Justiça Especializada”, anotou o juiz se referindo ao médico ofendido.
COMUM
Há outro processo na Justiça Comum referente a este caso, cuja liminar foi destaque da coluna de ontem.
APP
Santa Catarina não terá, nestas eleições, o aplicativo QR-Tot, que fez sucesso em 2022 por aumentar a transparência e acelerar a divulgação do resultado das urnas no Estado. A liberação da ferramenta estava nas mãos do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), que decidiu não disponibilizar o aplicativo.
A decisão levou em conta um impasse com envolvendo a ferramenta na Justiça Eleitoral. Em junho, uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu os tribunais regionais de utilizar sistemas paralelos de acompanhamento do resultado da votação.
SALDO
Dos quatro debates promovidos pelo JMais, somente um deles não teve pedido de direito de resposta: foi em Três Barras. O de Canoinhas foi o que teve maior número: foram cinco, com dois direitos concedidos.
DUDU
O caso polêmico envolvendo o ex-secretário de Habitação de Juliana, Carlos Eduardo Vipievski (PL), deve atravessar o período eleitoral. Enquanto não houver decisão transitada em julgado, ele pode seguir em campanha e, se eleito, ser empossado.